O SEGREDO DA MULTIPLICAÇÃO

Temos passado por dias difíceis, com ataques espirituais em diferentes níveis e em muitas direções. Em momentos assim, temos de nos perguntar: “O que o Senhor está fazendo em nosso meio como igreja? Qual a sua palavra para nós hoje?” 

Gostaria de trazer uma palavra de Deus a partir da multiplicação dos pães, que é o único milagre relatado em todos os Evangelhos (leia Mc 6.30-44; Lc 9.10-17; Mt 14.13-21; Jo 6.1-14). Isso certamente nos mostra a sua importância espiritual e é uma forma de o Espírito Santo nos dizer que devemos estar atentos a esse evento. Há algo muito significante nele que o Senhor quer que saibamos. 

Sendo o único milagre relatado nos quatro Evangelhos, ele se torna um padrão espiritual por meio do qual o Senhor nos aponta uma série de verdades espirituais. 

Com apenas cinco pães e dois peixinhos, o Senhor foi capaz de alimentar mais de cinco mil pessoas. O pastor do Salmo 23 que nos faz deitar em verdes pastos é o mesmo que alimenta cinco mil e ainda sobram doze cestos cheios. 

  • Quando entendemos a multiplicação, andamos sobre as águas 

O evento da multiplicação dos pães está intimamente relacionado ao milagre de andar sobre as águas. 

Esses dois milagres são contados juntos em todos os Evangelhos. 

Logo a seguir, compeliu Jesus os seus discípulos a embarcar e passar adiante para o outro lado, a Betsaida, enquanto ele despedia a multidão. E, tendo-os despedido, subiu ao monte para orar. Marcos 6:45,46

Logo em seguida, o Senhor subiu ao monte, mas impeliu os seus discípulos a entrar no barco. 

O ato de subir ao monte para orar nos mostra dispensacionalmente que hoje Ele subiu ao céu e está intercedendo por nós como nosso sumo sacerdote. Mas, ao mesmo tempo, Ele impeliu os seus discípulos a embarcar. 

O texto dá a ideia de que eles mesmos não queriam, mas foram impelidos. Hoje navegamos nas águas deste mundo. 

Ao cair da tarde, estava o barco no meio do mar, e ele, sozinho em terra. E, vendo-os em dificuldade a remar, porque o vento lhes era contrário, por volta da quarta vigília da noite, veio ter com eles, andando por sobre o mar; e queria tomar-lhes a dianteira. Marcos 6:47,48

Uma vez navegando, diz a Escritura que eles estavam remando contra os ventos. Os ventos eram contrários. É como a imagem da igreja caminhando no mundo hoje. 

A Bíblia diz que não devemos ser jogados de um lado para outro, ou ser levados de um lado para outro por todo vento de doutrina. Infelizmente, essa tem sido a história de muitos; enquanto navegam neste mundo, são levados por todo vento de doutrina (Ef 4.14). 

O problema é que a doutrina errada produz uma crença errada. 

A crença errada, por sua vez, produz uma vida errada. Sempre que você tem uma emoção errada, esse é um sinal claro de que você tem um pensamento errado. O problema é que, às vezes, nem percebemos no que estamos pensando, mas as nossas emoções são o barômetro que nos sinaliza que estamos seguindo ventos errados. 

Quando você sente medo, quando sente preocupação, quando fica ansioso de repente, pare um pouco e se pergunte: “Em que estou pensando? Que pensamentos passaram por minha cabeça?” Faça isso, porque os pensamentos são o resultado de sua fé. 

João 6 diz que Jesus estava fazendo muitos milagres. “E Jesus subiu ao monte, e ali se sentou com os seus discípulos” (Jo 6.3). O texto nos informa que a Páscoa, a festa dos judeus, estava próxima. Isso é muito revelador. 

Não há detalhes insignificantes na Bíblia. 

Hoje vivemos de acordo com a proximidade que experimentamos da obra consumada. 

Muitas vezes, ouvimos pessoas dizendo que não acreditam em milagres. 

Eles, porém, vendo-o andar sobre o mar, pensaram tratar-se de um fantasma e gritaram. Pois todos ficaram aterrados à vista dele. Mas logo lhes falou e disse: Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Marcos 6:49

Mas há uma consequência em não acreditar no milagre. 

Você sabe o motivo pelo qual, quando Jesus andou sobre as águas, eles não foram capazes de perceber? 

Talvez você diga: “Certamente é porque estava escuro”. Sim, eu concordo. Era a hora mais escura da noite, chamada de quarta vigília, e eles pensaram ter visto um fantasma. 

Concordo com isso, mas, quando Ele diz: “Sou eu! Não tenham medo. Tenham bom ânimo”, a Bíblia nos diz que o medo que tinham não era por causa dos ventos e das ondas. Eles temiam vê-lo, e essa é a razão, diz a Bíblia. 

Marcos 6.51 diz: “E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos”. 

E subiu para o barco para estar com eles, e o vento cessou. Ficaram entre si atônitos, porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido. (Mc 6.51-52) 

Agora veja no versículo 52, a razão dada: “[…] porque não haviam compreendido o milagre dos pães; antes, o seu coração estava endurecido”. 

Eles não consideraram, não meditaram e nem compreenderam. Eles não meditaram no milagre dos pães porque o seu coração estava endurecido. 

E por que o seu coração estava endurecido? 

Porque não meditaram no milagre, o poder miraculoso de Deus. Quando o seu coração está endurecido, você fica com medo, atônito e começa a pensar apenas em autopreservação. Isso é resultado do medo, mas o medo é o resultado de um coração duro. Isso é o que a Bíblia diz. 

E por que eles tinham um coração duro? 

Porque não meditaram no milagre dos pães, diz a Bíblia. Isso é surpreendente, porque o milagre havia acontecido só algumas horas atrás. 

Não havia necessidade de eles ficarem surpresos de verem o Senhor andando sobre as águas, mas a Bíblia diz que ficaram muito surpresos. 

O versículo 51 diz que eles ficaram atônitos. E essa é uma palavra que pode significar que ficaram admirados, mas também pode significar que ficaram confusos, desorientados, embasbacados, espantados, estupefatos e perplexos. 

Quando Deus faz suas coisas, não devemos ficar muito surpresos. Claro que devemos dar louvor a Ele e cantar como Ele é maravilhoso, mas não deveríamos ficar chocados e surpresos, porque afinal Ele é Deus. 

Assim, o problema dos discípulos é que eles não consideraram o milagre da multiplicação, nem meditaram nele. 

A razão de eles terem ficado com medo é porque o seu coração estava endurecido, pois não consideraram, não meditaram no poder de Deus liberado no milagre dos pães. 

O Senhor estava simplesmente lhes dizendo: “Vocês podem ter o quanto quiserem”. 

  1. Rejeição antes de multiplicação 

A primeira coisa à qual precisamos atentar é que o milagre da multiplicação aconteceu depois que o Senhor Jesus foi rejeitado. Em Mateus 14, encontramos a narrativa do milagre; em Mateus 13, as parábolas do reino; mas, em Mateus 12, temos o relato sobre a rejeição do Senhor por Israel. 

Observe que esse milagre da alimentação de cinco mil pessoas e Jesus andando sobre as águas no fim dele é mencionado em todos os quatro Evangelhos, não apenas nos Evangelhos Sinópticos, mas em todos os quatro, incluindo João. 

Por que esse milagre, entre todos os que o Senhor fez, está descrito em todos os Evangelhos? Deve haver algo muito significativo que o Espírito Santo deseja que saibamos, e eu creio que é para essa época em que vivemos. A alimentação dos cinco mil e Jesus andando sobre as águas aconteceu após a rejeição do Messias por Israel. 

E você vai descobrir que o relato dessa alimentação de cinco mil aconteceu em Mateus 14; mas, em Mateus 13, temos as parábolas do reino. Mateus 12 é quando acontece a rejeição do Senhor Jesus em toda a sua tríplice glória. 

E é nesse capítulo também que Ele se apresenta como aquele que é maior do que Salomão. 

A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão. (Mt 12.42) 

Esse é o primeiro nível de rejeição, pois mostra que o Senhor não era reconhecido em sua autoridade. 

Depois, no mesmo capítulo, Ele se refere a si mesmo como o maior sacerdote. Na verdade, Ele se declara maior que o próprio templo. 

Aqui está quem é maior que o templo. (Mt 12.6) 

Aquele que é maior que o templo é também maior que o sacerdócio e todas os sacrifícios oferecidos ali. 

E, depois disso, eles o rejeitaram como profeta, o profeta que Deus prometera a Moisés. O Senhor disse que enviaria um profeta como Moisés, e, se alguém não ouvisse a sua voz, esse seria condenado. 

Suscitar-lhes-ei um profeta do meio de seus irmãos, semelhante a ti, em cuja boca porei as minhas palavras, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar. De todo aquele que não ouvir as minhas palavras, que ele falar em meu nome, disso lhe pedirei contas. (Dt 18.18-19) 

Esse profeta veio, o seu nome é Jesus, e eles o rejeitaram como profeta, a voz de Deus para a nação de Israel. No mesmo capítulo, o Senhor diz que alguém maior do que Jonas estava ali e eles o rejeitaram. Então, eles rejeitaram o Senhor em toda a sua tríplice glória, como rei, como sacerdote e como profeta (Mt 12.41). 

Depois disso, em Mateus 13, pela primeira vez, o Senhor começou a falar por parábolas, porque as parábolas não são para revelar e ajudar as pessoas a compreender melhor um ensino, mas para esconder ou ocultar as verdades maravilhosas. 

O Senhor não atirava pérolas a porcos. As pérolas são as verdades maravilhosas reservadas para pessoas que desejam conhecê-lo mais intimamente. São para aqueles famintos por andar de acordo com os seus caminhos. Ele diz que “a eles não é dado que saibam, mas aos meus discípulos, aqueles que me valorizam, que andam comigo, que me seguem, é dado saber o significado dessas parábolas”. Tudo isso está registrado nas sete parábolas do reino, em Mateus 13. 

Chegamos, então, a Mateus 14, quando o Senhor multiplica os pães e os peixes e alimenta mais de cinco mil pessoas. Vamos nos atentar a esse evento, porque precisamos entendê-lo profeticamente.

Tudo isso aconteceu para a nossa edificação e instrução nestes dias. 

  1. A multiplicação é o milagre básico 

Olhando a sequência dos eventos, em Mateus 14, compreendemos por que esse milagre é mencionado quatro vezes nos Evangelhos. 

Ele mostra a nossa vida pessoal, mas também mostra profeticamente a obra do Senhor entre a sua rejeição pelos judeus e a sua segunda vinda. 

Enquanto o Senhor não volta, o que Ele está fazendo? Ele está alimentando o seu povo, Ele está protegendo o seu povo, caminhando sobre o mar e acalmando a tempestade. 

Eu creio que nós estamos prestes a experimentar um tempo de multiplicação em todos os níveis. 

Porém, assim como foi com o Senhor, também será conosco. Esse tempo de multiplicação e suprimento miraculoso será precedido por uma grande rejeição e perseguição. 

Já estamos experimentando isso hoje. Tenha um olhar profético em toda essa situação. 

Do ponto de vista dispensacional, podemos dizer que este tempo da graça é o tempo da multiplicação dos pães, do suprimento do Senhor. Nós vivemos o tempo entre a rejeição do Senhor por Israel e a sua volta nas nuvens. 

Essa mesma sequência pode ser vista nos Salmos 22, 23 e 24. 

O Salmo 22 mostra o sofrimento do Senhor na cruz. Podemos ver claramente, nos versos 1, 8, 15, 16 e 18, menções claras da crucificação. 

Entretanto, depois do Salmo 22, somos introduzidos na experiência do Salmo 23. Hoje estamos vivendo o Salmo 23. 

O bom Pastor tem cuidado de nós e nos apascentado em pastos verdejantes, junto a águas tranquilas. 

E, enquanto experimentamos a multiplicação sentados na relva verde, aguardamos o Salmo 24, que mostra o Rei da Glória entrando pelos portais eternos. Esse será o tempo da sua volta. 

No milagre da multiplicação, o Senhor manda que o povo se sente na relva em grupos de cinquenta. 

O quadro que vemos é do pastor cuidando das suas ovelhas e alimentando-as (Jo 6.10). 

A Escritura diz que o Senhor lhes deu pão o quanto quiseram. A Palavra de Deus não diz que o Senhor nos supre de acordo com os nossos recursos limitados. A promessa é que o Senhor nos suprirá de acordo com a sua riqueza em glória. O suprimento é de acordo com a sua riqueza (Fp 4.19). 

E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma de vossas necessidades. Filipenses 4:19

Jesus multiplica pães e peixes dando graças. A gratidão é uma das virtudes mais poderosas que podemos ter!!

Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente? Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; pois havia naquele lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase cinco mil. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os entre eles; e também igualmente os peixes, quanto queriam. E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca. Assim, pois, o fizeram e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobraram aos que haviam comido. João 6:8-12

Tudo, porém, depende de compreendermos o milagre do suprimento. 

Andar sobre as águas depende de termos revelação do milagre do suprimento sobrenatural do pão. 

Aluízio A. Silva