O senhor Jesus desceu da glória e se fez como um de nós para nos levar de volta ao Pai.

Segundo estudiosos, o nome Rute tem dois significados, “amiga” ou “bela”. Se, porém, juntarmos os dois, temos “bela amiga”.

Rute fala sobre a graça e o terno amor do Senhor para conosco. Em termos alegóricos, ela aponta para nós, que não éramos parte do povo de Deus, mas recebemos a sua graça. Rute era de Moabe, um povo descendente de um incesto entre Ló e uma de suas filhas. No Velho Testamento, um moabita não podia fazer parte da congregação de Israel até a décima geração (Dt 23.3). Eles eram um povo debaixo de maldição. Entretanto, mesmo assim Rute foi aceita e se tornou bisavó de Davi, o rei de Israel. Em Mateus, são mencionadas quatro mulheres na genealogia de Jesus, e Rute é uma delas.

A história do livro de Rute acontece nos dias dos juízes. O último versículo do livro de Juízes nos dá uma imagem de como eram aqueles dias.

Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada um fazia o que achava mais reto. (Jz 21.25)

A história do povo de Israel, no livro de Juízes, é um ciclo que alternava a queda na idolatria, o juízo na forma de servidão e o libertador.

O povo sempre caía na idolatria. Por causa disso, Deus permitia que uma nação viesse oprimi-los, então eles clamavam a Deus e este lhes enviava um libertador. Este é o padrão do livro, uma sequência de queda, depois opressão e então livramento. Tudo isso acontecia porque, naqueles dias, não havia liderança, e cada um fazia o que achava melhor.

Quando cada um faz o que lhe parece melhor, invariavelmente haverá caos e ausência da palavra de Deus. Nesse contexto, o livro de Rute começa dizendo que, naqueles dias, houve fome em Israel.

Nos dias em que julgavam os juízes, houve fome na terra; e um homem de Belém de Judá saiu a habitar na terra de Moabe, com sua mulher e seus dois filhos. Este homem se chamava Elimeleque, e sua mulher, Noemi; os filhos se chamavam Malom e Quiliom, efrateus, de Belém de Judá; vieram à terra de Moabe e ficaram ali. (Rt 1.1-2)

O livro de Juízes é um dos mais sombrios da Palavra de Deus. O povo frequentemente passava a adorar outros deuses. Lendo o livro, a impressão que temos é que a idolatria é o pior pecado, pois ela sempre trazia o juízo de Deus. Mas será que o povo não cometia outros pecados que também poderiam trazer juízo? Por que somente a idolatria?

Para entendermos isso, precisamos nos lembrar de como o povo de Israel era aceito por Deus. Todos os dias, o sacerdote deveria sacrificar um cordeiro de manhã e à tarde no Tabernáculo. O sangue do sacrifício cobria a nação e, assim, o juízo não vinha sobre eles. Também cada um deveria sacrificar ao Senhor nas festas e pela sua vida pessoal. O problema é que, quando eles caíam na idolatria, deixavam de sacrificar ao Senhor e, sem o sangue, o juízo não pode ser contido. Então, não é que a idolatria fosse o pior pecado ou deixasse Deus mais irado, o problema é que eles deixavam de adorar a Deus com o sacrifício que cobria o pecado.

Vivendo longe da casa do pão

Nos dias de Rute, havia fome em Israel por causa da rebelião e da idolatria. Lembre-se de que Deus não envia fome, Ele permite que ela venha. O tempo verbal no hebraico é permissivo, e não causativo.

É interessante que, quando Caim derramou o sangue de Abel, o Senhor lhe disse que a terra negaria a semente (Gn 4.12). A fome veio por causa da rebelião.

Belém significa “casa do pão”, e Judá significa “louvor”. Houve fome na casa do pão na terra do louvor.

Em Gênesis, Deus disse a Abraão que, no tempo de fome, ele não deveria sair da terra, mas invocar o Senhor. Elimeleque, porém, decidiu sair de Belém junto com a sua esposa e dois filhos e ir morar em Moabe.

Elimeleque significa “Deus é rei”, Malom significa “doente”, e Quiliom significa “desfalecendo ou morrendo”. Os nomes na Palavra de Deus sempre possuem significado. Os seus filhos refletem um pouco de como Elimeleque pensava.

Morreu Elimeleque, marido de Noemi; e ficou ela com seus dois filhos, os quais casaram com mulheres moabitas; era o nome de uma Orfa, e o nome da outra, Rute; e ficaram ali quase dez anos. Morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando, assim, a mulher desamparada de seus dois filhos e de seu marido. (Rt 1.3-5)

Na Bíblia, vemos que aqueles que servem a Deus e o adoram nunca sofrem em tempos de fome. Abraão passou pela fome e prosperou. Isaque semeou em tempos de fome e colheu cem vezes mais (Gn 26.1-2 e 12). José estava na terra do Egito quando houve fome e Deus o usou para salvar o mundo. Precisamos sempre nos lembrar disso, porque, no mundo, as crises são cíclicas, mas a promessa é que seremos supridos no meio da crise.

Em vez de permanecer na terra, Elimeleque saiu e foi para Moabe, um povo que havia sido rejeitado por Deus naquela época. Ele havia esquecido o significado do próprio nome e fez apenas o que achava melhor. Os seus filhos, contrariando o ensino da lei, casaram-se com moabitas.

Longe de Belém, a casa do pão, Elimeleque e seus dois filhos  – “doente” e “desfalecido” – morreram. Noemi ficou sozinha com suas duas noras.

Em termos de alegoria, Noemi representa Israel, a nação que Deus escolheu entre todas, não por ser melhor, mas para mostrar a glória de Deus ao resto do mundo.

Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu que o SENHOR se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Saiu, pois, ela com suas duas noras do lugar onde estivera; e, indo elas caminhando, de volta para a terra de Judá […] (Rt 1.6-7)

Noemi decidiu voltar para Belém porque ouviu que o Senhor se lembrara do seu povo, dando-lhe pão. Não foi a dureza da terra que a fez voltar, mas porque ouviu a respeito da bondade de Deus. Foi exatamente o que aconteceu com o filho pródigo, ele se lembrou de que, na casa do seu pai, havia pão em abundância (Lc 15.17). São as boas novas que trazem as pessoas de volta para Deus.

Observe que Noemi pensava no seu coração que Deus era contra ela, porque ela havia deixado a casa de Deus (Rt 1.20-22). É verdade que muitas vezes coisas ruins acontecem conosco porque abandonamos a bondade de Deus, mas precisamos saber que é a bondade de Deus que nos traz de volta. Ela não percebia, mas Deus havia preparado algo maravilhoso para ela. Mais tarde, veremos que ela entrou para a linhagem do Senhor Jesus.

No entanto, precisamos aprender a não deixar a casa de Deus nem a sua presença quando as coisas parecerem ruins. Deus sempre nos dará o seu suprimento. Elimeleque tinha medo de que a fome o destruísse, por isso saiu da casa do pão, mas aquilo que ele temia veio a acontecer com ele e seus filhos.

A lei do remidor

Rute era moabita. Os moabitas haviam sido amaldiçoados e não podiam participar da congregação do Senhor. Assim, houve um momento em que Rute vivia debaixo da maldição e estava fora da casa de Deus.

Enquanto estava casada com Malom, Rute não tinha filhos. Malom significa “doente”. Enquanto estava unida à doença, ela era infrutífera.

Depois que Elimeleque e Malom morreram, Rute foi para Israel com a sua sogra Noemi. E foram viver em Belém. Enquanto vivia ali, Rute saía para apanhar as espigas que caíam enquanto os segadores colhiam. Esta era a posição mais pobre e humilde em Israel.

Acontece que, certo dia, o dono do campo veio até ela. O seu nome era Boaz, que em hebraico significa “nele há força”. E a Palavra do Senhor diz que Rute encontrou favor diante dos seus olhos. Ele era o homem mais rico de Belém e era solteiro. Boaz é um tipo de Cristo.

Na lei de Moisés, estava escrito que, quando uma pessoa se empobrecia em Israel e sua terra fosse entregue aos credores para pagar dívidas, ainda haveria uma saída para livramento. Isso é chamado de princípio do parente remidor. Se a pessoa tivesse um parente próximo rico que estivesse disposto a comprar a terra e que quisesse se casar com a viúva, então ele poderia resgatar de volta os bens de quem empobrecera.

Muitos possuíam parentes ricos, mas estes não estavam dispostos a resgatar a dívida. Muitas vezes, aquele que ficava pobre era alguém que administrava mal as suas finanças, por isso o parente rico não tinha disposição de abençoar. Tudo isso aponta para o Senhor Jesus. Ele não era apenas rico, mas também queria nos redimir. Ele se fez homem para ser o nosso parente próximo e assim poder legalmente nos redimir.

Vemos que Boaz era um parente próximo de Rute e ele já estava apaixonado por ela. Ele estava disposto a redimi-la da pobreza, dos bens que foram perdidos por causa do seu ex-marido que havia falecido.

Abrigando nas asas do Senhor

Disse ele: Quem és tu? Ela respondeu: Sou Rute, tua serva; estende a tua capa sobre a tua serva, porque tu és resgatador. Disse ele: Bendita sejas tu do SENHOR, minha filha; melhor fizeste a tua última benevolência que a primeira, pois não foste após jovens, quer pobres, quer ricos. (Rt 3.9-10)

À meia-noite, Boaz acorda e se assusta com Rute aos seus pés. Estar aos pés é uma atitude de adoração. Nos Evangelhos, cada vez que uma pessoa caiu aos pés do Senhor, ela recebeu o seu milagre, recebeu o poder do redentor.

Rute, então, diz a Boaz: “Estende a tua capa sobre a tua serva”. No hebraico, a palavra “capa” nesse contexto é a mesma para “asas”. Uma tradução apropriada, portanto, seria: “Estende as tuas asas sobre a tua serva”.

A palavra “capa” usada nas orações judaicas é chamada de talit. Na orla dessa veste, havia um cordão azul, que simboliza a graça de Deus que desceu do céu.

Disse o SENHOR a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nos cantos das suas vestes façam borlas pelas suas gerações; e as borlas em cada canto, presas por um cordão azul. E as borlas estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do SENHOR e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. (Nm 15.37-40)

Como todo mestre em Israel, o Senhor Jesus também usava um talit, acessório religioso judaico em forma de um xale feito de linho, tendo em suas extremidades franjas. Ele é usado como uma cobertura principalmente no momento da oração.

As duas pontas do talit são chamadas de asas. No último livro do Velho Testamento, lemos que o Messias traria salvação nas suas asas.

Mas para vós, os que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, trazendo curas nas suas asas; vós saireis e saltareis como os bezerros da estrebaria. (Ml 4.2 TB)

talit simboliza a justiça. Quando você toca a justiça do Senhor, este é o momento em que o milagre acontece. Foi exatamente assim que a mulher hemorrágica foi curada.

Boaz certamente tinha um talit, e Rute pede que ele a cubra com as suas asas ou o com o seu talit. Ela estava falando de casamento, pois em Israel o homem cobre a sua noiva com o talit no dia do casamento. Em termos espirituais, significa que tudo aquilo que o Senhor cobre Ele redime para si mesmo.

O parente mais próximo

Entretanto, no meio desse santo drama, havia uma terceira parte. Existia ainda um parente mais próximo do que Boaz. Você sabe que a lei veio antes do Senhor Jesus. É isso que Boaz diz a Rute quando promete se casar com ela. Ele daria a oportunidade de aquele parente mais próximo exercer a sua prerrogativa.

Ora, é muito verdade que eu sou resgatador; mas ainda outro resgatador há mais chegado do que eu. (Rt 3.12)

A Palavra de Deus diz que, no dia seguinte, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade para tê-los como testemunhas. Por que eram dez? Esses dez são uma representação da lei. Então, esse parente mais próximo apareceu, mas o seu nome nunca é mencionado no livro de Rute. É assim porque a lei não tem nome. Romanos 3.21 diz que a própria lei é testemunha do dom da justiça que recebemos hoje em Cristo.

Embora o Senhor Jesus existisse antes da lei – pois a Bíblia diz que Ele estava desde o princípio com Deus –, do ponto de vista de manifestação ao homem, a lei foi dada primeiro, por isso ela era o parente mais próximo.

Boaz subiu à porta da cidade e assentou-se ali. Eis que o resgatador de que Boaz havia falado ia passando; então, lhe disse: Ó fulano, chega-te para aqui e assenta-te; ele se virou e se assentou. Então, Boaz tomou dez homens dos anciãos da cidade e disse: Assentai-vos aqui. E assentaram-se. Disse ao resgatador: Aquela parte da terra que foi de Elimeleque, nosso irmão, Noemi, que tornou da terra dos moabitas, a tem para venda. Então, disse o resgatador: Para mim não a poderei resgatar, para que não prejudique a minha; redime tu o que me cumpria resgatar, porque eu não poderei fazê-lo. (Rt 4.1-3 e 6)

A lei não tem poder para nos salvar. A lei está numa posição elevada e não pode curvar-se para redimir um pecador. O padrão da lei não pode ser alterado. Mas o Senhor Jesus desceu da glória e se fez como um de nós para nos levar de volta ao Pai.

Naquele tempo, o costume em Israel quanto a resgates e permutas era este: o que queria confirmar qualquer negócio tirava o calçado e o dava ao seu parceiro, assim se confirmava negócio em Israel (Rt 4.7).

O que significa tirar o sapato? Significa reconhecer que não tem direitos. Portanto, a partir daquele momento, a lei não tinha mais nenhum direito sobre Rute. Você certamente já percebeu que Rute aponta para nós, Boaz é o Senhor Jesus, e esse parente mais próximo é a lei.

A Moisés, que estava debaixo da lei, o Senhor mandou que tirasse os sapatos. Isso significa que ele não tinha nenhum direito de se colocar na presença de Deus. Todavia, na história do filho pródigo, debaixo da graça, o pai manda calçar o filho com o sapato. E aquele garoto nem era tão santo quanto Moisés, havia cometido todo tipo de pecado, mas o pai diz que ele tem o direito de se colocar na sua presença. Moisés era servo, mas ele era filho.

Então, Boaz disse aos anciãos e a todo o povo: Sois, hoje, testemunhas de que comprei da mão de Noemi tudo o que pertencia a Elimeleque, a Quiliom e a Malom. (Rt 4.9)

Boaz, que representa o Senhor Jesus, declara diante do mundo espiritual que comprou de volta tudo o que pertencia a Elimeleque, que significa “Deus é rei”. Em outras palavras, tudo o que foi dado por Deus, o Rei, ao homem, mas que foi perdido, agora foi comprado de volta por Cristo. Isso significa redimir. Tudo aquilo que foi perdido por Quilion (morrendo) e Malon (doente), tudo o que está relacionado com a morte e a doença, o Senhor comprou de volta para a igreja, a verdadeira Rute. E a lei não tem mais o direito de andar sobre a sua herança.

Depois que Boaz e Rute se casam, eles têm um bebê chamado Obede. Este se tornou o pai de Jessé, que foi o pai de Davi. E, assim, o nome de Rute entrou para a genealogia de Cristo. A história de amor de Rute é um quadro do evangelho. Aquela que pertencia a um povo amaldiçoado, que não tinha nenhum direito ao povo de Deus, tornou-se participante da genealogia do próprio Cristo.

Hoje, não temos mais nenhuma relação com aquele antigo parente próximo, a lei. Você se casou com o verdadeiro remidor, Cristo. Quando estiver triste, diga a Ele, pois Ele é a sua alegria. Quando estiver confuso, compartilhe com Ele, pois Ele é a sua sabedoria. Quando estiver fraco, Ele é a sua força. O amor d’Ele por você nunca muda. A sua graça e o seu amor se renovam a cada café da manhã com você.

No fim, lemos que Boaz gerou Obede, Obede gerou Jessé, e Jessé gerou Davi. Não há nada insignificante na Bíblia. Mesmo os nomes carregam um sentido espiritual. Boaz significa “nele há força”. Obede significa “servo”. Jessé significa “riqueza”. E Davi significa “amado”. Podemos ver que há uma mensagem aqui: “Nele, há força para servir riqueza ao seu amado”.

Perguntas para compartilhar

Qual o significado de Belém e Judá?

Por que devemos crer na graça e não na lei?