“Os discípulos no caminho ade Emaús não reconheceram o Senhor porque não o tinham como centro do seu pensamento. Sentiam-se frustrados porque queriam ver a libertação de Israel, não a glória do Senhor.”
No caminho de Emaús, temos a história de como dois discípulos tiveram um encontro com o Senhor depois da sua ressurreição. Durante a caminhada, os seus olhos vão se abrindo gradualmente até que, no fim, eles reconhecem o Senhor. Eles já o conheciam, mas agora deveriam conhecê-lo no espírito.
Creio que todos nós alegoricamente estamos nessa estrada e, enquanto caminhamos, recebemos luz para conhecer o Senhor intimamente em nosso espírito (leia Lucas 24.13 a 35). Vejamos alguns princípios por meio dos quais o Senhor os conduziu enquanto caminhavam.
1. Os olhos estavam impedidos de ver, pois o Senhor ainda não era o centro
Naquele mesmo dia, dois deles estavam de caminho para uma aldeia chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios. E iam conversando a respeito de todas as coisas sucedidas. Aconteceu que, enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. (Lc 24.13-16)
Aqueles discípulos estavam andando com Jesus, mas não perceberam que era o Senhor quem ia ao lado deles. Eles estavam tristes, e Jesus lhes pergunta o motivo da tristeza. A resposta deles é significativa: “Nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel” (Lc 24.21). Eles criam no Senhor, mas Cristo não era o ponto central, o ponto central era Israel.
Muitos agem como aqueles discípulos. Eles dizem: “Estamos tristes porque pensamos que Jesus faria o nosso filho passar no concurso. Pensamos que Ele prosperaria a nossa família”. A verdade é que Jesus não é o centro, nós queremos usá-lo para alcançar o que realmente pensamos que é o centro.
O Senhor é tão amoroso e tão bondoso que Ele tem prazer em dar tudo o que desejamos. Não importa a nossa necessidade, Ele diz: “Pode pegar o que você quiser”. Há abundância de bênçãos para nós. Entretanto, precisamos chegar ao nível de maturidade em que o ponto central não seja mais a bênção, mas o próprio Senhor Jesus.
Davi era alguém em quem o Senhor tinha prazer. Em Atos 13.22, Paulo diz que Davi era um homem segundo o coração de Deus. Costumamos pensar que ele era um homem segundo o coração de Deus porque era rápido para se arrepender quando pecava, mas há muitos outros que também eram prontos para se arrepender e não foram chamados de homens segundo o coração de Deus. Alguns dizem que ele era um adorador, por isso tinha uma posição especial, mas há muitos outros adoradores nas Escrituras.
O que havia de especial em Davi? Na verdade, ele nem era rei ainda quando Deus se referiu a ele como homem segundo o seu coração.
Já agora não subsistirá o teu reino. O SENHOR buscou para si um homem que lhe agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o SENHOR te ordenou. (1 Sm 13.14)
Certamente, todos os filhos de Deus estão debaixo do seu favor, são amados e desfrutam da bênção do Pai, mas há aqueles que lhe dão prazer. Davi era alguém em quem Deus tinha prazer, ele era segundo o seu coração.
O SENHOR, Deus de Israel, me escolheu de toda a casa de meu pai, para que eternamente fosse eu rei sobre Israel; porque a Judá escolheu por príncipe e a casa de meu pai, na casa de Judá; e entre os filhos de meu pai se agradou de mim, para me fazer rei sobre todo o Israel. (1 Cr 28.4)
Por que Deus tinha prazer em Davi? Simplesmente porque ele fez da presença de Deus o centro da sua vida. Sua maior preocupação era a Arca da Aliança.
Historicamente, Davi escreveu o Salmo 132 no tempo em que fugia de Saul. Naquele momento, ele andava errante pelo deserto junto com endividados e descontentes que se juntaram a ele. Nessa situação, é compreensível que Davi orasse para que Deus o livrasse dos inimigos e lhe desse um lugar para descansar. Muitos conquistadores na história buscaram um lugar para si mesmos, mas Davi estava preocupado com a casa de Deus. Ele queria encontrar uma morada para o Poderoso de Jacó.
Lembra-te, SENHOR, a favor de Davi, de todas as suas provações; de como jurou ao SENHOR e fez votos ao Poderoso de Jacó: Não entrarei na tenda em que moro, nem subirei ao leito em que repouso, não darei sono aos meus olhos, nem repouso às minhas pálpebras, até que eu encontre lugar para o SENHOR, morada para o Poderoso de Jacó. (Sl 132.1-5)
Todos buscavam algo para si, menos Davi. Mesmo quando ele fugia, sendo caçado como um criminoso, andando de um lugar para outro sem descanso, ele estava preocupado em edificar uma casa para Deus. O seu interesse era pela presença de Deus.
No Velho Testamento, a presença de Deus era tipificada pela Arca da Aliança. Ela era chamada de trono de Deus. A presença de Deus habitava na arca.
Ninguém havia se importado com a Arca antes de Davi. Saul foi levantado como rei, mas nunca ligou para a arca. Ele nunca buscou um lugar para a presença de Deus. Ele buscou algo para si mesmo, mas nunca procurou um lugar para o Senhor. A razão por que o Senhor se agradava de Davi é porque ele fez dos objetivos de Deus os seus objetivos; o pensamento de Deus era o seu pensamento central. E o pensamento de Deus é somente a respeito de Cristo, pois a Arca é Ele mesmo.
Não estamos interessados apenas no amor de Deus, que é maravilhoso, mas queremos que Ele tenha prazer em nós. O Senhor se agradou de Davi porque ele tinha a Arca como algo central. Para nós hoje, significa trazer Cristo para o centro da vida da igreja, Ele ser o centro da nossa mensagem.
Os discípulos no caminho de Emaús não reconheceram o Senhor porque não o tinham como centro do seu pensamento. Sentiam-se frustrados porque queriam ver a libertação de Israel, não a glória do Senhor.
2. Conhecer Jesus hoje é vê-lo nas Escrituras
E, começando por Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. (Lc 24.27)
O Senhor poderia ter simplesmente dito aos discípulos: “Olhem! Sou eu!” Todavia, em vez disso, Ele passou a mostrar nas Escrituras tudo o que estava escrito a seu respeito. Isso aconteceu para nos mostrar que a maneira como conhecemos o Senhor hoje na Nova Aliança é pela revelação da Palavra de Deus.
Paulo diz que hoje não mais conhecemos Jesus segundo a carne, ou seja, pelos nossos sentidos naturais, mas nós o conhecemos pelo Espírito.
Assim que, nós, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e, se antes conhecemos Cristo segundo a carne, já agora não o conhecemos deste modo. (2 Co 5.16)
Precisamos entender que todo o Velho Testamento fala de Cristo, por meio de símbolos e analogias. Cristo é a chave para entendermos o Velho Testamento. Lamentavelmente, muitos leem vendo apenas a lei. Se, porém, vermos a lei sem enxergarmos Cristo, não desfrutaremos de vida.
3. Quando o pão é partido, os nossos olhos se abrem
Enquanto os dois discípulos iam caminhando para a aldeia de Emaús, o próprio Senhor Jesus se aproximou e ia com eles. Então, Ele lhes perguntou a respeito do que estavam falando, e relataram como Jesus havia sido morto pelas autoridades, contudo não reconheceram o Senhor.
Nesse ponto, o Senhor Jesus começou a expor-lhes as Escrituras, mostrando tudo o que estava escrito a seu respeito. Quando eles chegaram, constrangeram o Senhor para que entrasse e, quando o Senhor partiu o pão, os seus olhos se abriram e reconheceram que era Jesus.
E aconteceu que, quando estavam à mesa, tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido, lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o reconheceram; mas ele desapareceu da presença deles. (Lc 24.30-31)
É interessante que a mesma expressão é usada para Adão e Eva quando comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ali se diz que os olhos deles se abriram (Gn 3.7). Mas agora os olhos dos discípulos se abriram quando o pão foi partido. No Velho Testamento, eles comeram da comida errada e tiveram os olhos abertos para o pecado; mas, no Novo Testamento, eles comem da comida certa, e os olhos são abertos para ver o autor da vida.
Há um grande poder na ceia do Senhor. Quando comemos do pão e bebemos do cálice, os nossos olhos espirituais são abertos e recebemos revelação do Senhor. Participe da mesa esperando vê-lo com os olhos da fé. Se você comer da carne e beber do sangue, terá luz e será transformado de glória em glória.
4. O coração aquecido é sinal de olhos abertos
No fim, a prova incontestável de que eles haviam estado com o Senhor Jesus era o coração que ardia enquanto Ele lhes falava.
E disseram um ao outro: Porventura, não nos ardia o coração, quando ele, pelo caminho, nos falava, quando nos expunha as Escrituras? (Lc 24.32)
Quando desfrutamos do Senhor em nosso espírito, espontaneamente o nosso coração entra em santa combustão. É muito triste que cristãos vivam sem essa chama ardendo em seu interior. Paulo diz aos Romanos: “Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor” (Rm 12.11), ou seja, sirvam ao Senhor com o espírito em chamas. Ter um espírito fervoroso é ter um espírito em ebulição.
Quando Jesus pregava, o coração das pessoas ardia. Aqueles discípulos estavam familiarizados com essa sensação, por isso eles perceberam que Jesus estava com eles. Se o seu coração arde, pode estar certo de que o Senhor está se revelando a você.
PERGUNTAS PARA COMPARTILHAR
1. A sua preocupação tem sido a mesma de Davi?
2. O seu coração arde ao desfrutar da presença de Deus?
3. De que maneira o Senhor tem sido o centro da sua vida?